«Se pudéssemos viver sem elas, sem dúvida omnes e a molestia careremus; mas uma vez que os deuses decidiram que não se pode viver sem elas, nem com elas conviver racionalmente, não nos resta senão fechar os olhos e pensar no bem do Império.»
Catão
A importância da mulher romana na sociedade era muito mais importante do que as considerações de Catão fazem prever.
"Os ténues vestígios que elas nos deixam provêm não tanto delas próprias (...) como do olhar dos homens que governam a cidade, constroem a sua memória e gerem os seus arquivos. "
Georges Duby
Os recenseamentos omitem as mulheres. Em Roma só são contabilizadas se forem herdeiras. Só no séc. III d.C, Diocleciano, por razões fiscais, ordena o seu numerando. Havendo poucas informações concretas, restam as imagens e os discursos. Por isso, citando o mesmo autor, o que vemos "não é tanto a realidade das relações entre os sexos, como a perspectiva do olhar masculino que as construiu e que preside à sua representação ".Marguerite Yourcenar, no caderno de apontamentos desse belíssimo livro que se chama "As Memórias de Adriano", comenta: "uma mulher que se conta a si própria será imediatamente acusada de deixar de ser mulher"... Arredadas da vida pública, resta-nos indagar os vestígios no domínio do privado.
A família romana típica era uma tirania em pequena escala. 0 paterfamilias (pai da família) tinha poder de vida e de morte sobre os seus próprios filhos. A sua mulher ficava em casa, a fiar e a tecer, e a servir o seu marido. No entanto, a realidade podia ser bem diferente. Estando o marido frequentemente fora, na guerra, a mulher romana das classes mais altas era uma rainha no seu reino doméstico – e gozava de muito mais autonomia do que as mulheres da Grécia Clássica.
A democracia ateniense nunca incluiu as mulheres: normas opressivas confinavam as mulheres e filhas, mesmo das classes mais altas, às suas casas. As mulheres romanas, se bem que politicamente sem poder, tinham urna considerável liberdade pessoal e politica; podiam ir aos banhos com as amigas, ou ao teatro e aos jogos.
A matrona romana estava presente na vida pública, dirigia a família com competência e gozava de respeito e consideração até nas conversas de tema cultural. As raparigas patrícias cresciam ao lado dos rapazes e eram educadas na arte, na música e na dança e só no início da puberdade eram separados. Enquanto eles eram preparados para os estudos e as armas, as mulheres aprendiam a dirigir a casa: vigiar os escravos, tecer, fiar, administrar o orçamento familiar. O matrimónio dava-se em idade muito jovem, mas com ele a matrona conquistava independência e autoridade.
As mulheres romanas, como as de hoje, tinham um estilo de vida consoante a riqueza da família. Enquanto umas ostentavam diademas, brincos, braceletes, pulseiras de tornozelo e anéis, as pobres ou escravas trabalhavam como costureiras, lavadeiras, cozinheiras, parteiras, amas-secas, curandeiras actrizes e dançarinas – ou servirem na enorme indústria do sexo do Império. Astianax e Elefantina, duas cortesãs de alto nascimento, segundo as crónicas, dizem terem sido autoras de um popular trabalho de pornografia.
Várias mulheres patrícias escreveram obras sérias: as memórias da mãe de Nero, Agripina, são referidas por Tácito, e no século I d.C., Pânfila de Epidauro escreveu livros sobre quase todos os ramos do antigo conhecimento. Nos campos da Pintura, na Filosofia e na Medicina as mulheres fizeram-se notar com importantes trabalhos nestas áreas.
Em 42 a.C., quando o Primeiro Triunvirato tentou aplicar uma taxa especial às matronas romanas, uma mulher, Hortênsia, invadiu a câmara conciliar (onde as mulheres não podiam entrar) e, dirigindo-se aos funcionários reunidos, falou com tanta paixão e eloquência que conseguiu o que queria e a taxa foi anulada.
Muitas mulheres ficaram na história de Roma como Júlia, filha de Júlio César, Lívia esposa de Augustus, a suave Octávia, a dissoluta Messalina, a imperial Gala Placidia e tantas outras que marcaram uma época de esplendor como foi a do Império Romano.
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