terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Inimigos de Roma

ANÍBAL BARCA

Em 221 a.C., surge militarmente a figura do grande inimigo: Aníbal substituiu o pai e deu início aos preparativos para a nova guerra, que começou em 218. Neste período, Cartago já havia ocupado terras em Portugal e na Espanha, ou seja, estava cercando Roma, geograficamente. Ele era um general mais ousado que o pai, e decidiu empregar uma estratégia corajosa para derrotar as legiões. Ao invés de realizar um ataque direto pelo mar, Aníbal marchou com o exército pela Gália Meridional, cruzando os Alpes em pleno inverno, com cerca de 50 mil soldados e 37 elefantes indianos de cinco toneladas. Mesmo tendo perdido uma parte considerável de seus homens durante os 190 quilômetros de travessia, ele entrou na Itália em 217 a.C., apavorando até mesmo os generais romanos, que jamais esperavam por uma invasão desse tipo.


Aníbal Barca (247 a.C - 183 a.C.), um
dos mais perigosos e famosos inimigos de
Roma. Escultura de Sébastien Slodzt, 1704.

A fama de Aníbal aumentou mais ainda no ano seguinte, quando, após vencer inúmeras batalhas e causar incontáveis baixas aos inimigos, confrontou as legiões e as venceu. Sua atuação brilhante frente ao exército garantiu uma grande vitória, que representaria a derrota definitiva dos romanos na Segunda Guerra Púnica. Porém, ele não chegou a invadir Roma, permitindo que a cidade se reerguesse. De qualquer forma, tudo parecia caminhar para um pedido de trégua, já que Roma perdeu mais uma batalha, em Canas. Só que a situação começou a mudar em 212, quando o cônsul Marcelo tomou Siracusa após um longo cerco. Assim, os cartagineses foram expulsos da Campânia, e Cápua foi reocupada pelos romanos.

Com essa derrota, o poder de Aníbal foi enfraquecendo, o que o forçou a recuar. Então, o general Públio Cornélio Cipião, conhecido depois como Africano, foi escalado a comandar as legiões em uma nova incursão. Primeiro, ele derrotou os cartagineses na região da Espanha, antes de invadir a África. As lutas em solo cartaginês começaram em 204 a.C. e só terminaram após dois anos de combates, quando os romanos conseguiram derrotar Aníbal na famosa Batalha de Zamma - nem mesmo a infinidade de mercenários e os elefantes foram capazes de conter a virulência dos guerreiros europeus, causando a ruína quase completa de Cartago. A paz, no fim, foi concluída em 201 a.C., quando Cartago foi condenada a pagar altos impostos aos romanos, além de ser forçada a destruir todos os navios.

Entretanto, a cidade ainda não estava completamente arruinada e começou a se recuperar aos poucos: Cartago voltava a tornar-se um incômodo. Segundo Rostovtzeff , Roma desafiou os cartagineses a uma nova guerra antes mesmo que o inimigo se rearmasse. Os conflitos ocorreram entre 149 e 146 a.C. Para se proteger, os norte-africanos se refugiaram atrás das grandes muralhas. Nesses três anos, eles foram massacrados sem piedade pelas legiões comandadas por Cipião Emiliano, filho adotivo do já lendário Cipião Africano. Após a derrota, Cartago foi anexada e transformada em uma simples província. O solo da cidade foi amaldiçoado e coberto de sal grosso para impedir que nada nascesse novamente por ali. A vitória trouxe a hegemonia no Mediterrâneo e representou o início de uma era de crescimento econômico e territorial para Roma.

NOVAMENTE, A GÁLIA


Pintura representa a vitória de Julio César sobre os belgas que, segundo
os relatos do general romano, eram os mais ferozes entre os gauleses.

O saque de Roma por Brenno não representou apenas o surgimento do primeiro inimigo histórico dos romanos, mas também plantou um grande ódio pelo povo celta no coração dos cidadãos de Roma. Entre 58 e 51 a.C., o general Júlio César (100 - 44 a.C.), que anos depois se tornaria ditador, ocupou-se de conquistar os territórios gauleses obtendo uma grande vitória. Porém, isso custou muitos homens, já que, do outro lado, estava Vercingetórix, um gaulês determinado a subjugar Roma definitivamente.

O confronto começou quando o romano descobriu que os helvécios, tribo próxima dos gauleses, preparavam uma migração em massa para a Gália, atravessando Provença. Para impedir a ocupação, César foi obrigado a levar o estandarte das legiões por praticamente todo o território gaulês, em uma guerra sangrenta. Após inúmeras derrotas consecutivas, os celtas foram cercados na cidade de Avaricum, que resistiu à ocupação romana por 27 dias.

Na fortificação, havia comida e suprimentos para agüentar a um cerco de meses, mas uma tempestade acobertou uma invasão de romanos, que saltaram as muralhas e assassinaram até mesmo mulheres, crianças e idosos. Apenas 800 pessoas sobreviveram onde antes moravam cerca de 40 mil pessoas.

Porém, o tempo que os romanos perderam na ocupação de Avaricum foi suficiente para o habilidoso Vercingetórix conseguir o apoio de diversas tribos bárbaras da região, agrupando-as em um único exército contra Roma. Essa força conjunta conseguiu repelir os romanos na Gergóvia e, em seguida, partiu para Alésia, onde o líder das tribos acreditava poder derrotar Roma com seus 80 mil gauleses. César, em pouco tempo, conseguiu construir inúmeras trincheiras e muralhas pelo caminho, para se defender de ataques de surpresa. Cerca de 55 mil legionários cercaram os inimigos. Júlio César, então, construiu novas barricadas, do lado oposto, para impedir a chegada de reforços - conta-se que Vercingetórix esperava a chegada de 300 mil gauleses.

Por fim, após uma grande seqüência de combates, a fome obrigou Vercingetórix a entregar as armas e pedir rendição - foi levado a Roma para ser exibido como troféu e acabou sendo decapitado anos mais tarde, quando César apresentou-se como ditador perpétuo ao povo. Enfim, o grande gaulês foi morto em um espetáculo público. Como os próprios romanos diziam, era a política do panis et circus.

O TRIUNFO DOS BÁRBAROS


Armínio e sua amada, numa visão do
século XIX (Johannes Gehrts, 1884).

Porém, nem toda a história da antiga Roma foi coberta de grandes vitórias e glória. A cidade também passou por alguns momentos difíceis e, por pouco, não sucumbiu aos ataques de generais invasores, como os germânicos Armínio, o visigodo Alarico e o lendário líder dos hunos, Átila. Considerados bárbaros pelos romanos, esses guerreiros conseguiram causar estragos até mesmo na credibilidade das legiões.
O primeiro deles a desafiar Roma foi Armínio. Porém, sua relação com a cidade começou de outra forma. No ano 8 a.C., os romanos conseguiram conquistar as tribos locais após uma longa e sangrenta guerra por expansão territorial e política.
O pai de Armínio, Segimero, aceitou fechar uma aliança com Roma para encerrar as hostilidades. O acordo possibilitou que o então jovem germânico fosse levado à Itália para receber treinamento militar. Após algum tempo, ele ainda foi contemplado com a cidadania romana, o que permitiu que chegasse a ocupar o cargo de tribuno.

Entretanto, a situação mudou. Em 7 d.C., Armínio voltou à Germânia como um grande guerreiro e decidiu desertar. Ele abandonou os romanos, que cobravam altos tributos para castigar o povo local, e decidiu contra-atacar. O general se tornou um grande herói nacional ao comandar o exército na Batalha da Floresta de Teutoburgo, quando três legiões foram dizimadas no campo de combate. Após anos de guerra, Roma decidiu abandonar a região em 16 d.C. Contudo, a Germânia entrou em um longo período de instabilidade que gerou brigas internas. Armínio acabou assassinado no ano 21.

O IMPÉRIO DE JOELHOS




Com o passar do tempo e com a crise do Império, inúmeras tribos bárbaras, como godos, ostrogodos e francos, começaram a incomodar Roma. Porém, foi um visigodo, Alarico, quem se destacou como o maior algoz no século IV d.C. De origem germânica, ele liderou tropas locais, as chamadas foederati, que lutavam sob ordens dos romanos em campanhas militares. Foi fiel a Teodósio até a morte do imperador em 395.

O Império, então, foi dividido entre Arcádio (que ficou com a parte Oriental) e Honório (que passou a controlar o lado Ocidental). Porém, as mudanças enfureceram Alarico: ele pleiteava há anos a sua promoção a general de um exército regular e não teve o pedido atendido pelos novos imperadores, que o menosprezavam. Com isso, ele se rebelou - assim como Armínio fizera séculos antes - e se auto-proclamou rei dos visigodos.

Para se vingar dos antigos aliados, começou uma campanha na Grécia, em 395. Dois anos depois, atravessou o golfo de Corinto, no Peloponeso, invadiu o Épiro e tomou a Ilíria. Em seguida, deu início à guerra contra Roma, em duas incursões pela Península Itálica (entre 400 e 403, e 407 e 410). Durante o levante, subjugou os exércitos inimigos e saqueou Roma, em 410 - esse acontecimento é considerado um dos grandes marcos do início da queda do Império Romano.


Por diversos anos Átila (406 - 453) chantageou o indefeso
Império Romano do Ocidente. O Huno recebia anualmente uma
enorme quantia em ouro, o que apenas fortalecia seu império
e enfraquecia os latinos. Em 452 chegou até as portas de
Roma, tendo recuado após seu encontro com o papa Leão I.

Surge então Átila, o huno, que ganhou dos católicos o simbólico apelido de Flagelo de Deus. Ele é considerado o último e mais poderoso rei dos hunos, que somou um território imenso, do Rio Danúbio ao Mar Báltico. Átila pilhou praticamente todas as grandes cidades bálcãs e, depois das conquistas, resolveu ampliar os domínios até Roma. A campanha do huno começou na metade do século V, quando invadiu o país e saqueou diversas províncias, em 452 d.C. O rei bárbaro chegou a se reunir com o papa Leão I, em uma tentativa de acordo: o monarca, no fim, foi convencido de que sua retirada era a melhor alternativa. Mesmo assim, os romanos já estavam muito enfraquecidos.

O principal feito de Átila foi ter conseguido sitiar Constantinopla, a capital do Império no Oriente. Seu objetivo era forçar a cidade a retomar o pagamento de impostos, que não eram quitados desde a morte de Teodósio. Finalmente, em 476, Odoacro, um general germânico que lutava contratado pelos romanos, revolta-se e depõe o imperador-fantoche Romulo Augustulo. Considerando o título problemático e sem sentido, Odoacro recusa ser nomeado imperador, torna-se o primeiro rei da Itália e acaba com o capenga Império Romano do Ocidente.

Conheça os antagonistas de Roma

Brenno: o saqueador de Roma (Gália)
Ninguém sabe com certeza se Brenno realmente existiu. Para alguns historiadores, esse nome seria genérico e significaria 'general', na antiga língua celta. De qualquer forma, Roma conheceu seu primeiro algoz entre 390 e 387 AC, quando as legiões não foram capazes de segurar o avanço gaulês na Itália. Os exércitos romanos tombaram na Batalha de Allia, permitindo o avanço das tropas da Gália até o interior da cidade, que foi pilhada. Muitos cidadãos acabaram sendo assassinados por Brenno, que só desocupou Roma após o pagamento de 1000 libras de ouro.

Aníbal: batalha nas portas de Roma (Cartago)
Aníbal Barca assumiu o controle dos exércitos de Cartago em 221 AC, substituindo seu pai, Amilcar. No entanto, ele foi mais ousado e quase venceu os romanos na Segunda Guerra Púnica: cruzou os Alpes com 50 mil homens e 37 elefantes de batalha, causando inúmeras baixas nas legiões inimigas. Em 216, na Batalha de Canas, conta-se que Anibal tinha apenas 40 mil homens, mas com uma estratégia brilhante venceu 80 mil romanos - 45 mil deles acabaram sendo mortos no próprio local. Derrotado em Zamma por Cipião Africanus, em 202 AC, o cartaginês se refugiou na África, onde cometeu suicidou 19 anos mais tarde, para não ser capturado.

Viriato: a resistência da Lusitânia (Lusitânia)
Anos depois das Guerras Púnicas, Roma encampou uma guerra sangrenta para expandir seus territórios pela Península Ibérica. A idéia era conquistar posições na Lusitânia (onde atualmente fica a Espanha e Portugal) e, com isso, consolidar os domínios romanos Conheça os antagonistas de Roma em um ponto estratégico para evitar invasões africanas à Europa. Porém, os lusitanos contavam com um general determinado a barrar as legiões: Viriato. Entre 147 e 139 AC, ele liderou os exércitos locais em batalhas que culminaram em vitórias sobre Roma, tornando-se um herói lendário para seu povo. O estilo de luta dos nativos, mais afeitos a guerrilhas e emboscadas que a grandes batalhas de campo, era um obstáculo cotidiano para os generais de Roma, que só conseguiram se livrar de Viriato contratando um assassino, traidor dos lusitanos.

Pirro: o herdeiro de Alexandre (Épiro)
Quando Tarento decidiu se opor à expansão romana no Sul da Itália, Pirro, rei do Épiro e herdeiro de Alexandre da Macedônia, resolveu enviar tropas para ajudar os aliados e, com isso, dar início a seu próprio plano de unificar gregos sicilianos e italianos para edificar um grande império. O monarca desembarcou na cidade sitiada com 20 mil homens e 20 elefantes - além de conquistar apoio de outros 20 mil samnitas, lucânios e brúcios. Entre 280 e 279 AC, Pirro venceu Roma em duas grandes batalhas, mas mesmo assim não conseguiu se estabelecer na região. Em 275 AC, foi derrotado pelos generais inimigos e teve de abandonar a Itália.

Espártaco: o escravo rebelde (Trácia)
Espártaco nasceu livre, na Trácia, mas tornou-se escravo após desertar do batalhão no qual servia. Seu destino mudou ao ser vendido a Lentulo Batiato, na Cápua, onde passou a ser treinado em uma escola de gladiadores. Em 73 AC, os gladiadores se rebelaram, tomando armas e armaduras para combater os romanos. Espártaco conduziu o bando para uma cratera no Vesúvio, que aos poucos foi recebendo reforços de escravos fugidos de várias regiões da Itália. A milícia derrotou vários comandantes de Roma, em dois anos de luta. Porém, Marco Licínio Crasso conseguiu derrotá-los em 71 AC, e ordenou que os sobreviventes fossem crucificados na Via Ápia.

Vercingetórix: O último suspiro Gaulês( Gália)
Quando Júlio César foi incumbido de conquistar a Gália (58 a 51 AC), não imaginou que encontraria uma resistência tão maciça, com guerreiros tão determinados a expulsar os romanos da região. O principal líder das tribos celtas era Vercingetórix, que unificou os clãs e reuniu cerca de 80 mil homens em Alésia, para combater os legionários. Porém, o general romano construiu trincheiras em toda a região, cercando os inimigos e impedindo a chegada de reforços. Após muitas batalhas, César pôde finalmente ser proclamado "o pacificador" da Gália e descansar...até a Guerra Civil.

Armínio: o Libertador da Germânia (Germânia)
O germano Armínio foi levado a Roma em 8 AC, após sua tribo ser conquistada e seu pai, Segimero, ter aceito uma aliança com os conquistadores: com isso, o jovem recebeu treinamento militar, se tornou tribuno e foi agraciado com cidadania romana. No ano 7 depois de Cristo, ao voltar para sua terra natal, Armínio abandonou os romanos, que castigavam o povo com altos impostos, e comandou os germanos na grande Batalha da Floresta de Teutoburgo - três legiões foram massacradas. Após anos de conflitos, Roma decidiu abandonar a região em em 16 DC, deixando a Germânia imersa em guerras internas. Por fim, Armínio, o "Libertador da Germânia", foi assassinato em 21 DC, provavelmente pelo próprio sogro, Segestes.

Boudica: a vingadora celta (Bretanha)
Boudica se tornou rainha dos Icenis (uma tribo celta) no século I DC, após a morte de seu marido, um antigo aliado de Roma. Porém, após assumir o trono, ela descobriu que os romanos tinham outros planos: Nero queria consolidar seu poder na região. Roma anexou o território celta e capturou Boudica e suas filhas, que foram torturadas e estupradas: mas a rainha guerreira jurou vingança. Ela conduziu icenis e outros celtas em um grande levante contra as legiões, que fez o Império pensar na possibilidade de retirar as tropas da região. Mesmo após sua derrota, Boudica continuou sendo um símbolo de resistência para o povo. Sua fama conquistou a simpatia inclusive da rainha Victoria, no século XVI.

Átila: o Flagelo de Deus
Uma característica sempre foi inerente aos hunos: a predisposição à guerra. Átila não foi diferente. Ele comandou um império que ia do Rio Danúbio ao Mar Báltico. Sua sagacidade fez com que fosse apelidado pelos católicos de "Flagelo de Deus". Após saquear boa parte das cidades balcânicas, Átila voltou sua atenção para a Itália. Em 452 DC, o huno invadiu o País e pilhou inúmeras regiões, o que assustou não só os romanos, mas o próprio papa Leão I. Durante o encontro entre o monarca e o sacerdote, Átila foi convencido a se retirar. Morreu no ano seguinte, sem antes conseguir empreender novo ataque a Constantinopla, que havia deixado de pagar impostos após a morte de Teodósio, em 450.


<--1ª Parte


.:: Revista Leituras da História

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