sábado, 6 de fevereiro de 2010

Império Romano no Norte da África

Ruínas Romanas na Argélia.


Cartago

Cartago havia sido fundada, tanto quanto se sabe, cerca do ano 814 a.C. por colonos Fenícios liderados pela rainha Dido. Em 264 a.C. inicia-se a primeira das três guerras púnicas contra o império romano. No ano de 146 a.C., esta civilização antiga do Norte de África conheceu um fim sangrento e brutal quando Cornelius Scipio Aemilianus destrói totalmente a cidade. Na última batalha da terceira Guerra Púnica, as forças de Roma haviam vencido o seu velho inimigo: Cartago. Localizada perto da atual cidade de Túnis (15Km a Norte), aquela que tinha sido a maior potência do Norte de África durante séculos estava agora completamente destruída. Mas, como tantas vezes acontece ao longo da história, o fim de uma grande era deu início a outra.




Não demorou muito até que o modo de vida romano começasse a deixar a sua marca na região que Cartago tinha dominado. A influência romana levou a uma época brilhante por parte desta cidade, uma época cujos testemunhos podem ainda ser vistos hoje. A destruição de Cartago foi um acontecimento que abalou o mundo em si. Uma cidade que tinha sobrevivido durante 600 anos foi arrasada pelos romanos vitoriosos. A cartago púnica, a antiga rival, não voltaria a erguer-se. Foi uma vitória esmagadora para Roma, uma vitória que garantiu o objetivo estratégico que procurava: o controlo das rotas de comércio através do estreito da Sicília. Nas décadas posteriores a 146 a.C., Roma ficou aparentemente satisfeita com este êxito. Após a destruição de Cartago os territórios africanos foram deixados, na sua maior parte, entregues a si próprios como no passado.

Só mais tarde, já na era de Júlio César é que a influência de Roma começou a fazer-se sentir no Norte de África. Com César e o seu primeiro sucessor, o primeiro imperador Augusto Roma começou a reconhecer os benefícios de uma presença forte no Norte de África. Os romanos tinham arrasado Cartago para eliminarem o seu inimigo mais mortal e quando o fizeram estavam apenas a pensar em ganhar a guerra e acabar com o seu oponente. Mas, uma vez a vitória alcançada, repararam que agora tinham um novo problema: tinham eliminado o ponto mais óbvio para ter uma grande cidade que pudesse aproveitar as terras férteis desta parte do Norte de África. As potencialidades para o comércio e para a agricultura eram demasiado tentadoras e a solução foi redundar Cartago que depressa se transformou no centro de comércio e de riqueza que já tinha sido no passado. Desta vez era-o também, mas sob o controlo romano.




Os romanos refundiram Cartago devido às suas características tão óbvias: tinha estruturas que possibilitavam a construção de um porto magnífico, ocupa uma posição central no mediterrâneo na costa sul e é o ponto de passagem mais próximo para a Sicília. No fundo é um ponto importante onde uma grande cidade comercial se podia facilmente desenvolver. Daí que os romanos a tenham feito renascer como a capital da África romana. Cartago seria uma das cidades mais importantes de todo o império romano.

Começaram a chegar colonos aos milhares ao velho interior rural de Cartago. Em breve estavam a ser construídas colônias romanas por toda a região. É uma região que abarca os atuais Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia numa faixa que se estende até ao Egito. esta zona era uma enorme fonte de riqueza agrícola, sobretudo de cereais. A área mais importante talvez fosse o Norte da Tunísia e Nordeste da Nigéria, que recebia chuvas em quantidade suficiente para permitir colheitas abundantes de cereais. Daí que o historiador Josefus escrevesse no primeiro século da nossa era que o Egito fornecia Roma com cereais para quatro meses e a zona de Cartago para oito meses. Mesmo que não se entenda esta afirmação literalmente ela mostra a importância relativa do Norte de África para o império romano.

Douga

A melhor das povoações romanas sobreviventes na Tunísia de hoje é Douga.




Originalmente uma colônia Númida, Douga acabou por se transformar numa cidade de 5.000 habitantes. Nesta cidade estão por todo o lado restos indiscutíveis de uma comunidade romana. O Forum ainda pode ser visto e perto dele estão as ruínas de muitos dos templos da cidade. De entre estes, o Capitólio, um dos melhores dos que chegaram até nós em todo o Norte de África. Construído no segundo século depois de Cristo, este lugar sagrado era dedicado aos deuses Júpiter, Juno e Minerva como, aliás, todos os Capitólios de todas as cidades romanas. Construído em pedra africana o Capitólio de Douga tem na frontaria quatro enormes colunas coríntias com um tímpano que representa uma águia. No interior, o santuário continha uma estátua de Júpiter de grandes dimensões. Fragmentos deste antigo gigante podem hoje ser vistos no museu do Norte de África romano, o Museu do Bardo em Túnis.

Noutros pontos de Douga foram construídos vários templos em honra de deuses romanos muito populares. Infelizmente, muitos destes edifícios estão agora bastante danificados. Do templo de Saturno não resta mais do que algumas colunas. Só podemos imaginar o monumento que seria certamente admirável devido àsua localização e paisagem envolvente. Felizmente muitas construções romanas resistiram aos séculos em muito melhor estado de conservação.

Os muitos templos de Douga tornam evidente que a ocupação romana do Norte de África implicou a imposição da religião de Roma. Não restaram vestígios de construções do período em que eram venerados os antigos deuses púnicos que dominaram a vida espiritual de Cartago. Todavia, sabemos que no Norte de África muitos dos deuses romanos mais populares foram identificados com os antigos deuses da região. Saturno, por exemplo, foi identificado com o antigo deus púnico Baal. O templo de Douga dedicado a Saturno foi construído no local antes consagrado ao outro deus. Uma transformação semelhante ocorreu com a deusa Tanitz, esposa de Baal na região cartaginesa, que veio a ser identificada com a deusa romana Juno. O templo construído em Douga em sua honra é outra das ruínas que conseguiram resistir. esta identidade entre os deuses púnicos, venerados pelo povo local e os deuses dos conquistadores é um excelente exemplo de como o Norte de África se foi tornando cada vez mais romano.

A forma como os romanos impunham as suas crenças culturais e religiosas é muito complexa. De tal forma que a própria palavra "impôr" é um erro. Porque uma das coisas mais inteligentes da colonização romana era sua forma subtil de lidar com as culturas e crenças religiosas locais. Na prática os romanos permitiam que as religiões locais com os seus cultos continuassem como antes desde que algo fosse feito para romanizar um pouco esses cultos. Por exemplo, um deus local poderia tomar também um nome romano. Ou seja, a religião e as práticas não se modificariam de todo tomando apenas um nome que lhe desse um ar um pouco romano.

À medida que as populações do Norte de África iam ficando mais romanas contruiam mais templos dedicados a divindades romanas. Assim, encontramos templos de estilo romanos, ou seja, construídos em plataformas com colunas e escadarias na frente em número apreciável. O fato de as populações locais construírem tantos templos em honra dos deuses romanos parece indicar um grau muito elevado de aceitação e adoção dos costumes e cultura romanos.

Expansão

A romanização do Norte de África parece ter sido, no geral, suave e eficaz. Mas houve, por vezes, alguma resistência. Nos primeiros anos da colonização romana, entre o primeiro século a.C e o primeiro século d.C. - especialmente no tempo de Augusto - houve alguns levantamentos e resistência armada uma vez que foi o período inicial da projeção do poder romano do centro para a periferia (do Norte da Tunísia para as regiões vizinhas) até chegarem aos limites dos desertos onde encontraram povos nômades que não se identificavam tanto com a cultura mediterrânica e com os seus conflitos. Apesar disto, não há dúvidas de que Roma acabou por ter um controlo total da região. Durante quatro séculos os romanos expandiram o seu território africano incansavelmente.

Em meados do século III, o território da África do Norte sob controlo romano estendia-se da costa atlântica à Líbia. No auge do seu poder, o território africano de Roma alongava-se por quase 2.500 Kms. Uma das razões para esta expansão constante foi o costume romano da construção de estradas. Tal como em todo o restante império, os romanos edificaram uma vasta rede de estradas. Estima-se que esta rede, no séc. III, cobria mais de 19.000 Km de estradas. Apenas uma parte muito pequena de tudo isto sobrevive ainda, mas o resto das estradas pavimentadas construídas nas cidades ainda se podem ver hoje.

A primeira função destas vias de comunicação era militar. Os romanos acreditavam que quanto mais fácil fosse para as suas tropas se moverem dentro de uma província mais fácil seria manter um controlo eficaz da mesma. A história confirma o quanto estava correta esta convicção. Notavelmente, durante toda a ocupação romana do Norte de África, apenas uma legião de soldados esteve permanentemente sediada na região (à volta de 6.000 homens): era a terceira legião augustana. O controlo romano desta área apenas com uma legião estava em pleno contraste com o que se passou na Grã-Bretanha, por exemplo, onde foram precisas quatro legiões para controlar uma área territorial muito mais pequena.

As razões para isto residem no fato de que a ocupação do Norte de África não era uma simples conquista mas antes de expansão e assimilação. Este processo parece ter sido ajudado pelo fato de que o Norte de África, naquele período, não parece ter sido densamente povoado. Uma boa parte da região ocupada pelos romanos era ocupada por pastores semi-nômades que viviam movimentando os seus rebanhos de áreas de Inverno para Verão e vice-versa. Assim, existe uma grande área de território com uma população pequena e pouco densa.

A economia da região

A história econômica do Norte de África romano é dominada pela agricultura. No mesmo lugar da Tunísia de hoje, o cultivo da terra tornou-se uma tarefa altamente lucrativa. No primeiro século, a terra fértil a sul de Cartago produziu enormes quantidades de trigo. No segundo século, as culturas foram estendidas mais para sul, com os olivais a tornarem-se uma nova fonte de lucro. Pomares e vinhas também se tornaram uma marca deste tempo.

A pecuária não teve um papel econômico menos importante. Gado ovino e bovino, cabras e cavalos, todos traziam grandes lucros. O que sabemos pelos dados arqueológicos é que quase toda a região se tornou intensamente cultivada, particularmente por olivais, uma vez que o azeite se tornou um bem extremamente valioso. A agricultura expandiu-se de tal forma que acabou por envolver muitas pessoas de origem africana. O fato de os romanos terem cultivado todas estas regiões até às partes pré-desérticas acabou por resultar na criação de muitas oportunidades de integração no império para as populações norte-africanas.

A rede de estradas revelou-se inestimável para o sucesso da indústria agrícola. Do ponto de vista do consumo local, permitia que os produtos fossem levados com facilidade para os mercados das cidades. Do ponto de vista do império, permitia que uma importante indústria de exportação funcionasse. Em portos famosos como o da Cartago romana, os navios partiam para Roma carregados com trigo africano. A agricultura era de longe a indústria dominante no Norte de África romano mas outras indústrias pequenas também tinham o seu lugar. O peixe salgado e o garum (uma mistura de especiarias) eram exportados em grandes quantidades. Também chegou até nós bastante cerâmica desta época. Para além disso, as construções romanas que sobreviveram atestam a importância enorme da construção civil. esta incluía a exploração de pedreiras. O mármore dourado de Kiptu estava entre as mais nobres exportações do Norte de África do seu tempo. O local da pedreira onde se extraia esta pedra ainda hoje pode ser visitado.

Para muitos proprietários e comerciantes a economia agrícola extraordinariamente bem sucedida significava a riqueza. Os sinais desta riqueza podem ver-se nos mosaicos daquele tempo. As ruínas de habitações como as casas de luxo que podemos ver em Douga revelam essa riqueza abundante.

Cultura

Muitas das casas eram escavadas na rocha e possuíam divisões subterrâneas para proteção contra os calores, por vezes extremos, da região. Construir tais habitações ricamente decoradas com mosaicos e cenas de uma vida plena de riqueza deve ter exigido um dispêndio de energia e recursos enorme. esta forma de vida confortável e conveniente estava ao alcance apenas de alguns muito ricos. De qualquer forma, o número deste tipo de construções de gente abastada é muito mais freqüente do que em muitas outras áreas do império romano.


As casas de bula regia(Foi revestido por um
vasto número de mosaicos para os pavimentos).

A indústria de mosaicos africana começou a crescer lentamente a partir do segundo século da nossa era e o primeiro destes grandes pavimentos de mosaicos de pequenos cubos aparece por volta do anos 120 ou 130. por esta altura os principais motivos em mosaico ainda eram executados a preto e branco. Mas os romanos africanos devem ter querido algo mais importante e mais belo. É então introduzida a cor e pavimentos inteiros completamente cobertos de composições com vários temas. O mosaico tornou-se uma forma de mostrar o poder que se tinha dentro da comunidade. A marca distintiva destes painéis de mosaicos africanos é assim a sua policromia e as composições enormes. Estas idéias e esta forma de decoração acabou por influenciar outras áreas do império e estas ideias africanas acabaram por serem exportadas para outras províncias.

Para além do seu valor artístico, os mosaicos oferecem-nos imagens únicas da vida daquele tempo. O mais famoso destes mosaicos está também no museu de Túnis. É conhecido como o mosaico do proprietário Jullius e retrata a vida numa quinta do século IV. O proprietário aparece rodeado pelos seus servos. A esposa recebe das mãos de uma criada uma caixa de jóias. A casa, suntuosa, domina o centro da composição. A impressão que nos é transmitida é a de uma vida despreocupada, de luxo e tranqüilidade.

A época romana do Norte de África constitui um bom tempo e lugar para se ser rico. Com a paz assegurada pelo terceira legião augustana e com a prosperidade garantida pela agricultura muitos podiam gozar uma vida de lazer. Sabemos, por exemplo, que as visitas regulares ao teatro eram parte da vida social dos romanos. Podem encontrar-se ruínas de teatros por toda a região com o seu traçado típico em semi-círculo. O teatro restaurado em Douga é um exemplo impressionante. Construído em 168 d.C. deve ter reunido aqui os habitantes da cidade para assistirem à comédia, à tragédia, aos espetáculos de mímica e outras representações.

Na parte cartaginesa do Norte de África, que vai da parte Oeste da Líbia, da Tripolitânia para Oeste, não há conhecimento da existência de teatro antes dos romanos. Foram os romanos que introduziram os seus teatros nas suas cidades. Nas zonas mais a Leste (como o Egipto) podemos encontrar vestígios de teatros gregos uma vez que estas regiões tinham tido colónias gregas. O teatro, o circo, a representação e as termas são tudo inovações introduzidas no Norte de África pelos romanos. São partes da civilização romana que os africanos abraçaram quase de imediato.

Tal como hoje, assistir ao teatro não era apenas uma experiência artística. Para os romanos do Norte de África, o teatro também desempenhava uma função social. Era um bom lugar para conhecer pessoas. O mesmo acontecia com as termas, construídas um pouco por toda a região. Em Douga, havia pelo menos três conjuntos destes edifícios e algumas das ruínas ainda são bem visíveis. Era uma característica da vida quotidiana ir às termas não apenas por questões de higiene mas mais como uma atividade social. Ia-se aos banhos públicos para se encontrarem os amigos, para se fazer negócios, para conversar, mexericar, etc. Encontram-se muitos edifícios de banhos monumentais rica e profusamente decorados com diversos mármores, estátuas, mosaico. Eram sítios muito agradáveis para passar o tempo, relaxar e esquecer o trabalho.

Poder

Perto das termas, em Douga, existe um arco triunfal dedicado a um imperador que chegou ao poder em 193 d.C. O seu nome era Sétimo Severo. O seu período de governo foi um período notável na história romana. Mas talvez não devido aos seus feitos enquanto esteve no Poder. Nascido em Léptis Magna, na Líbia dos dias de hoje, foi o primeiro africano a atingir o posto mais alto da hierarquia do império romano.

Este triunfo de Sétimo severo não deve ser encarado como invulgar. Uma característica da ocupação romana era precisamente proporcionar oportunidades às populações conquistadas de se tornarem tão bem sucedidos e ricos como os colonos romanos. Uma das características do Império Romano, ao contrário de impérios mais recentes como o império britânico ou o francês, o espanhol e o português é a de permitir acesso à estrutura de poder do próprio império. No Norte de África, em particular, existiam níveis elevados de penetração das populações autóctones nesta estrutura. Em Douga foram descobertas várias inscrições que denotam a progressiva romanização das populações locais com a mudança de nomes nativos para nomes romanos ou com um som mais romanizado que o original.

Logo no século primeiro, alguns africanos bem sucedidos já eram suficientemente ricos para satisfazerem a qualificação de riqueza para a centúria romana. Na oitava década desse século foi nomeado o primeiro senador africano. Nos finais do século segundo, 1/3 do Senado tinha antecedentes africanos. Talvez graças a esta riqueza, a província de África tinha uma voz forte nos corredores de Roma. Mas o elitismo parece ter sido dominante entre aqueles que eram estritamente de origem romana. Constou que a irmã do imperador Sétimo Severo, Sétima Octivila, falava tão mal o latim em Roma que causou embaraços ao imperador e teve que ser enviada de regresso a África.

Apesar destes episódios, os feitos políticos de Severo foram importantes como, por exemplo, os seus ambiciosos projeto de obras públicas.


Ruínas romanas de Leptis Magna, Líbia.

Na Líbia, reconstruiu a sua terra natal, Léptis Magna, cujas ruínas ainda hoje nos dão sinais de uma considerável riqueza. O colossal Forum de Severo que domina a cidade foi iniciado por Sétimo severo no século III d.C. Os pormenores decorativos e a estrutura refletem o poder da elite africana e o êxito da sua integração no sistema romano. Severo morreu no ano de 211 depois de visitar a província romana da Britânnia para reforçar a sua fronteira Norte, o Muro de Adriano. faleceu na viagem de regresso, na cidade de York. A sua morte, todavia, marcou o início de uma dinastia de imperadores africanos. Severo foi sucedido pelos seus filhos, Carcala e Queta. Mais tarde carcala assassinou Queta e mandou apagar, por todo o império as inscrições com o nome do irmão. A estes imperadores sucederam-se Magrino e Helagapalo. A dinastia chegou ao seu fim em 235 d.C. com a morte de Alexandre Severo. Também ele é relembrado com um arco triunfal em Douga, um testemunho duradouro do êxito político dos norte-africanos.

O período da dinastia dos Severos é considerado muitas vezes como o mais grandioso do Norte de África romano. O seu território era vasto, pacífico e próspero, uma província de aproximadamente oito milhões de habitantes. No início do século III foram construídos alguns dos melhores edifícios do tempo quando os cidadãos abastados começaram a aplicar a sua riqueza em processos de construção ambiciosos. De todos os edifícios de todo o Norte de África romano não há, contudo, muitas dúvidas quanto à escolha do mais notável. Localizado a cerca de 160Km a Sul de Túnis está uma das mais impressionantes edificações romanas de todo o império que chegaram até aos nossos dias: o anfiteatro de El Djem.


Anfiteatro de El Djem.

Nenhum outro edifício do Norte de África pode igualar a grandiosidade deste recinto de espetáculos. Embora nunca tenha sido completado, aquilo que foi construído, em meados do século III, continua a ser um feito arquitetônico extraordinário. O seu estado de conservação é notável e as suas proporções inspiram respeito. Tem 150m de comprimento e 125 de largura, as bancadas elevam-se a mais de 35 metros de altura, para uma capacidade de 35.000 lugares. Como outros anfiteatros é inspirado no Coliseu de Roma tendo as suas estruturas sido assentes em arcos e subestruturas por baixo dos lugares dos espectadores. É assim, chamado de "Coliseu Africano".

O entretenimento que era oferecido, como em todos os anfiteatros romanos, era popular, fácil de entender e violento. O combate entre gladiadores era uma parte importante do espetáculo. A morte era freqüentemente o resultado destes confrontos ou causada pelos ferimentos do combate ou por uma derrota que não era mortal. Neste último caso a multidão indicava a sua opinião sobre a coragem do derrotado durante a luta. depois da opinião da turba seria o cidadão romano mais importante a tomar a decisão. Mas o combate entre humanos era apenas uma parte do espetáculo. Também eram populares as lutas entre animais selvagens. Leopardos, leões, ursos, touros eram trazidos de toda a parte para lutarem entre si ou contra homens conhecidos como bestiários. Os criminosos eram muitas vezes enviados para a arena desarmados ao encontro de uma morte terrível e inevitável. Eram despedaçados e pisados perante dezenas de milhar de cidadãos que gritavam freneticamente perante o espetáculo sangrento. As saídas ao anfiteatro era uma saída muito popular para ricos e pobres uma vez que estes espetáculos eram financiados pelos poderosos das cidades uma vez que eram necessários recursos enormes para conseguir organizar praticamente tais perseguições, matanças e combates em massa.

O cristianismo

Enquanto o Norte de África romano vivia a sua idade de ouro, um novo tipo de vítima mortal começava a aparecer nos anfiteatros: os cristãos. O século II assistiu à expansão de uma nova religião no Norte de África. A reação foi muitas vezes hostil e violenta. A fé cristã tinha alguns problemas em permitir aos seus fiéis o culto romano do imperador e era, na maioria das vezes proibido. Se um cristão recusava formalmente o culto, a morte era o resultado. Muitos relatos falam da ida ao encontro da morte nos anfiteatros em êxtase, certos da sua vida posterior no céu. A sua coragem continua a ser um aspecto admirável da história do cristianismo. De qualquer forma, os martírios não conseguiram travar o avanço da Cristandade e a ascenção da nova fé marca o princípio do fim da presença dos romanos no Norte de África. Por alturas do século IV o Cristianismo era religião dominante no território.

Não obstante, a Igreja Cristã encontrava-se freqüentemente em crise, atormentada por disputas internas e divisões. As autoridades romanas também enfrentavam problemas. Um conflito a propósito dos impostos levou a uma revolta. Embora dominada esta revolta marca o fim de uma era de paz excepcional. Em breve o próprio império romano começa a desmoronar-se enredado nos seus conflitos internos Por fim partiu-se em dois: o império do ocidente com Oede em Roma e o do Oriente centrado em Constantinopla.

Também houve forças externas envolvidas nestas mudanças. Tribos bárbaras (que não falavam latim) como os Hunos, os Godos e os Vândalos saquearam o império do ocidente. Em 429 os Vândalos fizeram a travessia da Espanha para o norte de África e rapidamente dominaram a região. A era romana tinha terminado. Embora o império do oriente tenha mais tarde recuperado o domínio da região, a época gloriosa do Norte de África romano jamais poderia ser restaurada. No final do século VII os exércitos de uma nova religião, o Islã, começaram a espalhar-se por todo o Norte de África. No século VIII a província romana já representava um temo passado mas graças aos escritos dos historiadores e às obras dos artistas e dos construtores antigos podemos ter a certeza de que foi uma época verdadeiramente notável.

Fonte: Adlocutio


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Um comentário:

Marcos Venicio disse...

Teria sido a vastidão do deserto do Saara a responsável pela não expansão do império romano para as regiões centrais e do sul da África ?