terça-feira, 20 de abril de 2010

A emboscada de Teutoburg

Um genial ataque-surpresa derrotou o melhor e mais bem preparado exército da época




As legiões romanas atravessavam a região de Teutoburg com tranqüilidade. Afinal, a Germânia no ano 9 era um território pacífico que parecia conformado com a submissão ao poderoso Império Romano. De repente, dardos e flechas cruzaram o ar. Seguiram-se correrias e gritos de guerra. Emboscada! Surpreendidos, os soldados não tiveram tempo para se organizar em formações de combate e muitos foram abatidos antes de ao menos compreender o que havia acontecido. Civis e carroças com provisões, que viajavam em meio às tropas, eram facilmente massacrados pelos agressores, o que tornava a defesa ainda mais difícil. O exército romano, o mais bem preparado e equipado de sua época, não segurou a onda em uma das melhores táticas de guerra já inventadas, o ataque-surpresa.




O local da emboscada foi escolhido a dedo, uma faixa de terra de 220 metros de largura espremida entre uma colina ao sul e um brejo ao norte, a leste de onde hoje fica a cidade de Bramsche, na Alemanha. Os soldados germânicos, munidos basicamente de lanças, dardos e escudos, fizeram uma série de ataques-relâmpago colina abaixo. Com a confusão instaurada nas linhas romanas, muitos soldados foram empurrados em direção ao brejo, onde o equipamento pesado impossibilitava qualquer tática de defesa.




Dividido, surpreso e subitamente num território hostil, o exército romano tentou recuar para locais seguros. Em vão. Conhecendo melhor o terreno, os germânicos perseguiram e atacaram furiosamente os soldados latinos, aniquilando aos poucos os sobreviventes do ataque principal.
É fácil entender por que os legionários fugiam com tanto desespero. Eles estavam cercados, desorganizados e, ao contrário do que ocorre hoje em dia, render-se não era uma opção: os prisioneiros eram crucificados e queimados vivos – ou, na melhor das hipóteses, escravizados –, enquanto os oficiais eram sacrificados aos deuses germânicos. Diante da situação desesperadora, o comandante do exército, Publius Quintilius Varus, tomou a única atitude considerada honrosa naquele momento para os romanos: suicidou-se, projetando-se sobre sua própria espada. Em apenas quatro dias o império perdeu cerca de 15 mil legionários, 900 soldados auxiliares e outros tantos cavaleiros, três legiões inteiras no total.

Os relatos da selvageria perpetrada pelos germânicos tiveram um enorme impacto entre os romanos. “A população de Roma ficou tão assustada que o imperador Augusto teve de ordenar aos vigias da cidade que ficassem de prontidão durante a noite”, relata o historiador holandês Jona Lendering, especialista em Antiguidade. Depois da derrocada, os números das legiões destruídas, XVII, XVIII e XIX, passaram a ser considerados amaldiçoados e jamais seriam atribuídos novamente a qualquer outra legião. Para os germânicos, porém, Teutoburg é sinônimo de vitória. “Séculos mais tarde, Armínio, o líder do ataque, foi elevado à posição de verdadeiro herói nacional”, diz Lendering.

Os romanos ainda voltariam à Germânia em expedições posteriores, destinadas a “lavar a alma” do império e a resgatar os estandartes das legiões aniquiladas. Mas, apesar de bem-sucedidas, nenhuma delas tentou recuperar para os romanos o controle da região. A Batalha de Teutoburg contribuiu para que as tribos germânicas garantissem sua independência. De quebra, manteve a cultura alemã a uma distância segura da influência latina, fator que repercute até os dias de hoje na divisão de poder da Europa Unificada ou em conflitos como a derrubada do Império Napoleônico e a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Hermann, ex-Armínio




A cilada de Teutoburg foi arquitetada por Armínio, líder da tribo germânica dos cheruscos. Nas palavras do historiador romano Paterculus, “Armínio era bravo na hora de agir, aprendia com rapidez e tinha uma mente que o colocava muito acima do estado de barbarismo”. Tal era sua reputação que os romanos, antes, o viam como um aliado e lhe concederam regalias de cidadão de Roma. A armadilha foi executada à perfeição. Aparentemente Armínio pediu a uma tribo distante que entrasse em revolta, apenas para atrair a atenção das legiões romanas estacionadas na Germânia. O comandante romano, Publius Quintilius Varus, jamais percebeu a verdadeira intenção dos bárbaros e não tomou as devidas precauções para a marcha. Como resultado fez com que Roma perdesse para sempre sua influência sobre a região. Mas Armínio não pôde saborear a vitória por muito tempo. No ano 15, uma nova expedição romana, comandada por Germanicus, capturou sua esposa, Thusnelda. No verão do mesmo ano, oito legiões marcharam sobre os germânicos e derrotaram os homens de Armínio. Germanicus, então, retirou seus homens da região e deixou que a diplomacia romana cuidasse de jogar as tribos germânicas umas contra as outras. O fim do líder cherusco foi inglório: acabou assassinado por uma tribo germânica rival. Apesar disso, sua imagem foi resgatada nos últimos séculos por nacionalistas alemães. Só que decidiram rebatizá–lo com seu suposto nome germânico: Hermann.

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Leia também!

► A »Cortina de Ferro« da Antiguidade

► A conversão religiosa dos germanos

2 comentários:

Willian disse...

Muito boa a matéria parabéns.

Anônimo disse...

Muito bom! Obrigado pela explicação.
Eu vi essa história em uma música do novo CD do Ex Deo.
Se quiser ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=cqL56dOaxmw
Essa banda conta a história de Roma com músicas de Metal. Altamente recomendado.