terça-feira, 23 de março de 2010

O Egito Romano

Trinta anos antes da era cristã, Cleópatra VII, a última governante ptolomaica estava morta. O Imperador Augusto havia posto o Egito sob o governo romano. Uma terra cheia de prestígio, fácil de defender e capaz de produzir quantidades enormes de alimentos




O Egito em que os romanos chegaram era muito parecido com o país dos tempos faraônicos remotos, um país definido pelo rio Nilo, que cortava o deserto de norte a sul, com alguns quilômetros de terra cultivada. O rio dividia a região a norte da cidade de Mênfis, que era muito grande e já havia sido a capital real, em duas partes principais; as outras cidades localizadas entre estas duas zonas, junto com elas, formavam o Delta, que era intensamente cultivado. No Egito a agricultura dependia da cheia anual, que nos melhores anos levava água aos locais mais distantes das áreas cultivadas e cobria o solo com o fértil lodo do Nilo. O rio era rico em peixes, comidos frescos, defumados ou usados na produção de temperos. As principais plantações eram de trigo, uvas para fazer vinho em quantidades enormes, especialmente no final do período romano. Nos pântanos do Delta, crescia o papiro. A maioria das pessoas vivia em aldeias na zonal rural e muitas nas principais cidades de cada nomo, que se tornaram vilas de crescimento, poucas avenidas principais retas normalmente flanqueadas por edifícios públicos e pontilhadas de templos. Alexandria era um grande armazém, que não fabricava nada muito importante, mas recebia e exportava os produtos do Egito e os materiais exóticos da Índia e do Oriente, trazidos nas épocas das monções aos portos do Mar Vermelho e transportados para o Nilo por todo o deserto.

O Domínio Romano

O Egipto era um trunfo muito especial para o imperador, pois era um país cheio de prestígio, fácil de defender e fornecia o trigo necessário a Roma.

Uma terra capaz de produzir quantidades enormes de alimentos e fácil de defender não se poderia tornar uma base para nobres ambiciosos: ela seria governada por um prefeito.

O imperador era representado por um prefeito da ordem equestre, da sua confiança, instituído de amplos poderes administrativos, jurídicos e militares.

O prefeito regia com a ajuda do exército, em pequenas unidades espalhadas pelo país. Precisa garantir a coleta de impostos e o transporte de grãos, para alimentar os romanos em sua terra natal.

Para o Egito como um todo a conquista Romana acabou por ser benéfica, ao menos inicialmente. Se por um lado o país, pela primeira vez desde o domínio Persa, voltava a ter um Faraó que não residia no Egito (o Imperador Romano tomou para si o título de Faraó), por outro, passava a ter um que se preocupava com o Egito como um todo e não apenas com uma cidade: Alexandria.

Alexandria continuou sendo o principal centro do governo e as antigas divisões dos nomos (províncias) com suas cidades metropolitanas foram mantidas.

O regime agrário também não se modificou: as terras reais e sagradas tornaram-se terras imperiais e mesmo as terras de proprietários privados eram controladas pelo imperador. Muitas delas foram sujeitas a confiscações. Para além do grande domínio sobre este setor da economia, o imperador ainda tinha o monopólio sobre as minas, as salinas e a produção de papiros.

O latim era o idioma dos exércitos, mas a maioria dos detalhes burocráticos era registrado em grego. Em todo o Egito, durante a época ptolomaica, a linha divisória entre os gregos e os egípcios havia se tornado mais sutil com o passar do tempo, pois o critério para ser um grego era aparentemente a simples capacidade de falar grego e dizer que era grego. Uma circunstância que os conquistadores romanos achavam incompreensível e intolerável. Os gregos eram gregos e os egípcios não eram; então, eles tornaram as regras mais rígidas para garantir que esta confusão não acontecesse. Os gregos tinham que comprovar suas origens.

Os egípcios eram considerados uma classe inferior e foram compilados regulamentos por escrito, conhecidos como o Gnomon do Idios Logos, para permitir que as autoridades romanas reforçassem este preconceito e estabelecessem penalidades fixas. Uma grande parte destas normas sobreviveu em um documento de papiro.

Os Imperadores Romanos, ao menos no começo, se preocuparam em desempenhar seu papel de Faraós, sendo assim, construíram diques, templos e palácios. Revitalizaram a economia da região e até deram força às antigas crenças, se bem que com ressalvas, visto que os Romanos não aceitavam duas práticas religiosas nos países que dominavam: Magia Negra e Sacrifícios Humanos.

Sacrifícios Humanos os Egípcios não realizavam, mas, no entanto, aos olhos dos Romanos, a Magia Negra era um crime de sua Religião. Sob o domínio Romano a Núbia voltou a ser contatada, se bem que não dominada (esta é, aliás, uma das mais fortes raízes de indícios de uma possível Cristianização do Reino de Meroë e da difusão do Cristianismo pelo Chifre da África, em Reinos como a Absínia e, quem sabe, o Reino de Prestes João) Entre os feitos Romanos no Egito estão a construção de um novo e bonito oratório na ilha de Philae (que talvez tenha mesmo sido construída inteiramente no Período Romano) e a revitalização de Elefantina como forte de proteção do Egito contra ofensivas oriundas da África Central.

Aliás, no que se refere a Philae, pode-se dizer que ela foi o último resquício da Religião Antiga do Egito. Numa época em que os demais templos já haviam sido abandonados até mesmo pelos turistas que, na época em que os Imperadores (ainda não Cristãos) favoreciam o Egito e seus templos, viviam ocupando os sacerdotes que se haviam convertido em guias turísticos, o templo de Isis em Filae ainda se mantinha ativo e com um Clero residente. Seu oráculo era representante de Isis e de Horus e foi o último bastião do culto da mãe e do filho (que inspirara a história de Maria e Jesus) a resistir no Egito e no mundo Mediterrâneo.

Conta-se que um falcão sagrado com uma penugem de um colorido todo especial vivia sobre o batente de entrada do templo, com efeito, este falcão era o próprio Horus, ou seja, agora que já não havia mais Faraós, o Horus havia se tornado um falcão a habitar o batente da porta de um templo. Foi no governo de Justiniano (527 – 565 d.e.c.) que o templo de Philae foi invadido e destruído por uma horda de Cristãos incitados por seus Clérigos. O falcão sagrado foi morto, o templo foi despojado de todo o seu ouro e os Sacerdotes foram dispersados ou mortos. Era a força de Cristo se impondo (literalmente) sobre os cultos que originaram sua essência, mas a quem ela não pagou outro tributo senão o da condenação por infidelidade e idolatria, as mesmas velhas desculpas de sempre, desculpas que justificaram tantas mortes ao longo da História e que ainda justificam inúmeros preconceitos ignorantes.

Impostos

Sob o governo romano, o Egito foi pesadamente explorado, através da enorme quantidade de regras e impostos.

Os impostos eram injustamente aplicados, com os ricos pagando menos. Os cidadãos de Alexandria eram imensamente privilegiados e pagavam poucos impostos. Os cidadãos das cidades provincianas pagavam mais e os habitantes egípcios da zona rural, muito mais pobres, pagavam muito mais. Um dos mais caros era o imposto da «apuração de votos» introduzido pelos romanos e perpetuado durante os primeiros 3 séculos de seu governo.

Somente os cidadãos de Alexandria podiam requerer o grande prêmio dos primeiros séculos do governo romano «a cidadania romana». Mas mudou perto do ano 200 dC , quando o imperador Sétimo Severo permitiu que Alexandria tivesse um senado e as capitais dos nomos instituíssem conselhos. Os impostos não foram aliviados, o que impedia a prosperidade agrícola. Os homens fugiam de suas casas e de fazendas porque não conseguiam pagar, mas os aldeãos da mesma categoria que eles tinham que recuperar o dinheiro perdido e eram forçados a trabalhar na terra abandonada. Nos locais em que aldeias inteiras eram abandonadas, as comunidades vizinhas eram obrigadas a assumir o fardo do imposto.

Os membros da classe magistral que, em séculos anteriores pagavam com muito boa vontade pela construção de edifícios e pelos serviços públicos, como o fornecimento dos óleos para os banhos, foram forçados a executar suas tarefas de maneira compulsória e em geral eram financeiramente arruinados pela imposição das taxas adicionais. Os coletores de impostos, quando não recebiam as quantias que lhes eram devidas, recorriam à violência e ao encarceramento dos membros da família dos contribuintes relutantes.

Houve muitos períodos durante o governo romano em que a vida se tornou intolerável, mas os séculos V e VI foram provavelmente os mais prósperos para o povo em geral. O tributo para a «apuração de votos» parece ter sido abolido pelo imperador Diocleciano, perto do final do século III. Mas muitas outras taxas continuavam e novas eram introduzidas, com o annona militaris, um imposto para o benefício do exército, e o«imposto da coroa», pago em ouro ao imperador pelas cidades e suas dependências. Muito diferente dos Ptolomeus, que haviam armazenado os grãos e o ouro no Egito, os imperadores romanos levaram embora a maioria destes produtos. Houve uma inflação lenta com o passar dos séculos, mas os preços aumentaram drasticamente apenas a partir do final do século III.

O imperador Diocleciano ordenou as mudanças mais abrangentes na organização do Egito romano, desde a administração original de Augusto. Perto do final do século III, Diocleciano dividiu o país em 3 províncias, para propósitos de administração:




1. o Egito Jovia juntamente com Alexandria, era governado pelo prefeito do Egito,
2. o Egito Hercília e
3. o Egito Tebaida tinham governadores diferentes.

O latim se transformou cada vez mais no idioma da burocracia. Diocleciano também revisou a estrutura dos impostos, introduzindo ciclos de acusações e períodos fixos de arrecadação fiscal, de forma que as pessoas entendiam mais o que se esperava delas. As demandas arbitrárias e inesperadas tornaram-se menos frequentes. As divisões e as amalgamações adicionais do país continuaram durante todo o final do período romano.

Houve várias rebeliões contra o domínio romano. Perto do final desse domínio, os persas ficaram no controle do país durante uma década e foram expulsos em 627; menos de 15 anos depois, os árabes vieram para ficar. Eles destruíram o forte da Babilônia, próximo do local onde a cidade do Cairo seria mais tarde erguida, e depois ocuparam Alexandria em 642, colocando um fim no governo romano depois de quase 700 anos.

Augusto via o sacerdócio egípcio como um centro de patriotismo, desassossego e rebelião e por isso restringiu severamente seus poderes e seus privilégios. Com o triunfo do cristianismo, os oficiais religiosos, principalmente os patriarcas de Alexandria, tornaram-se imensamente poderosos e puderam contrariar as intenções dos governadores do Egito e até mesmo do imperador. O monasticismo foi desenvolvido no Egito. O cristianismo uniu os gregos do Egito com a população egípcia. Como ali se falava mais egípcio do que grego, a Bíblia e os textos cristãos sagrados foram escritos em um idioma que veio a ser chamado de copta, o idioma egípcio escrito com letras gregas e alguns caracteres adicionais da escrita demótica. Com o passar do tempo, o copta começou a ser usado em documentos seculares, apesar do grego continuar sendo muito escrito no período árabe.

Arquitetura


Anfiteatro Romano (Kom El Dekka), Alexandria, Egito
Construído no século 2, esse anfiteatro romano tem 13 partes
semicirculares feitas de mármore branco e cinza.

Muitos dos templos das cidades foram construídos nos estilo egípcio tradicional; mas os edifícios clássicos introduzidos pelos Ptolomeus e no período romano tornaram-se mais evidentes em todo país. Além dos templos clássicos, outros edifícios públicos de formato clássico também foram construídos:

Teatros, hipódromos, ginásios, termas, ninfáceas, ruas colunadas, arcos triunfais e colunas honoríficas.

Alguns dos templos faraônicos presentes nas cidades e aldeias eram muito antigos, mas grande parte dos mais completos e que sobrevivem até hoje foram erguidos pelos Ptolomeus e pelos romanos. Foram construídas igrejas esplêndidas. É possível que no final do século III a maioria dos egípcios já era cristão, ocorrendo um declínio progressivo das religiões pagãs.

Arte e Artesanato

A arte e o artesanato do Egito romano continuaram e também modificaram todos os estilos do passado. As pinturas murais que normalmente retratavam as deidades – Ísis, Atenas... – decoravam muitas das casas localizadas nas aldeias e nas cidades. Durante os primeiros anos do governo romano, algumas esculturas seguiam os estilos tradicionais, mas começou a mudar na época dos ptolomeus. As belas e realistas estátuas de pedra e bronze tornaram-se iguais àquelas produzidas em outras partes das terras clássicas. Apesar do marmóreo branco ser geologicamente escasso no Egito, ele não parece ter sido explorado nos tempos faraônicos, é muito usado durante os períodos ptolomaico e romano tenha sido importado. A fundição do bronze era há muito praticada no Egito e as figuras ocas e volumosas, produzidas pelo processo de encerramento, eram desenvolvidas já no Terceiro Período Intermediário. Durante a época ptolomaica, uma enorme variedade de figuras de terracota foi desenvolvida nas aldeias e nas cidades do Egito, a maioria associada à religião popular, à proteção do povo contra o sobrenatural e a seu bem estar em todos os desastres naturais que pudessem acontecer. Desde o século I dC até os tempos medievais, os ateliês de cerâmica de Assuan tiveram uma produção vasta de mercadorias de barbotina, cerâmica vermelha e de vasos pintados. Algumas da joias de ouro do Egito romano descendiam diretamente das da Dinastia Ptolomaica, particularmente as pulseiras e os anéis de serpente. Os tecidos elaborados, recuperados em vastas quantidades nos sepulcros e nas cidadelas egípcias. Os tecelões do Egito confeccionavam os artigos de vestuário com apenas uma peça e os decoravam ricamente, com motivos de plantas, animais e humanos.

Fontes: Blog Um Mundo Distante / Wikipédia / Templo de Apolo


Leia também!

► Império Romano no Norte da África

► Romanização da Península Ibérica

► A Gália ocupada pelos romanos

3 comentários:

Josivaldo disse...

Uma dúvida
Na época do nascimento de Jesus o Egito era dominado pelos Romanos ?
Quem administrava o Egito na época ?

Cristiane Motta disse...

Quando ocorreu a conquista do Egito por Roma ?em que ano?

Vitor disse...

Abaixo do egito , a núbia chegou a ser conquistada pelos romanos ?