segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cesaréia - de cidade romana a fortaleza cruzada

Cesaréia localiza-se na costa do Mediterrâneo, no meio do caminho entre Tel Aviv e Haifa. As escavações arqueológicas durante as décadas de 50 e 60 revelaram remanescentes de muitos períodos e, particularmente, o complexo de fortificações da cidade cruzada e o teatro romano.




Durante os últimos 20 anos, importantes escavações realizadas por numerosas expedições de Israel e do exterior expuseram impressionantes vestígios da grandiosidade esquecida da cidade romana e daquela dos cruzados.

A Cidade Romana

Fundada pelo Rei Herodes no século I a.E.C., na localização de um porto comercial fenício e grego denominado Torre de Straton, Cesaréia foi assim denominada por Herodes em homenagem ao imperador romano César Augusto. A cidade foi detalhadamente descrita pelo historiador judeu Flávio Josefo (Antigüidades XV pág. 331 e seg.; Guerra I, pág. 408 e seg.). Era uma cidade murada, com o maior porto na costa oriental do Mediterrâneo, chamada Sebastos, o nome grego do Imperador Augusto.

O templo da cidade, dedicado a César Augusto, foi construído sobre um pódio elevado diante do porto. Uma ampla escadaria conduzia do píer ao templo. Foram erigidos edifícios públicos e esmeradas instalações de entretenimento, segundo a tradição imperial. O palácio do Rei Herodes situava-se na parte meridional da cidade.

No ano 6 da era comum, Cesaréia tornou-se a sede dos procuradores romanos da Provincia Juda e nela se instalou o quartel-general da 10 Legião Romana. Nos séculos II e III a cidade se expandiu, tornando-se uma das mais importantes da parte oriental do Império Romano, sendo classificada como "Metrópole da Província da Síria-Palestina".

Cesaréia desempenhou um importante papel na história do início do cristianismo. Foi aqui que realizou-se o batismo do centurião romano Cornelius (Atos 10:1-5, 25-28); S. Paulo partiu daqui para sua viagem pelo Mediterrâneo oriental, e aqui foi aprisionado e enviado a Roma para julgamento (Atos 23:23-24).

O palácio foi construído sobre um promontório rochoso saliente, na parte meridional da cidade romana. As escavações revelaram uma grande estrutura arquitetônica, de 110 x 60 m, com um tanque decorativo cercado por pórticos. Esta construção elegante, em localização tão singular, foi identificada como o palácio de Herodes (Antigüidades XV, f. 332). O palácio foi usado durante todo o período romano, conforme atestam duas colunas com inscrições dedicatórias em grego e latim, contendo os nomes dos governadores da província da Judéia.




O teatro fica situado bem no sul da cidade. É atribuído ao Rei Herodes e foi a primeira das instalações romanas de entretenimento construídas em seu reino. O teatro está de frente para o mar e tem milhares de lugares arrumados numa estrutura semi-circular arqueada. O piso semi-circular da orquestra, revestido de início com gesso pintado, foi posteriormente lajeado com mármore.

O anfiteatro, na costa meridional da cidade, foi mencionado também por Flávio Josefo. Era orientado no sentido norte-sul e media 64 x 31 m. Os lados oriental e setentrional (arredondado) estão bem preservados; o lado ocidental foi destruído em grande parte pelo mar. Uma parede de 1,05 m de altura rodeava a arena coberta com giz esmigalhado e batido. Quando foi construído, na época de Herodes, tinha cerca de 8.000 lugares; no século I E.C. foram acrescentados mais lugares, aumentando sua capacidade para 15.000 espectadores. As dimensões, a forma e as instalações indicam que este anfiteatro era usado para corridas de cavalo e de bigas sendo, de fato, um hipódromo. Foi encontrada uma inscrição referindo-se a Morismus [o] cocheiro. Durante o século II, o anfiteatro foi construído e adaptado para ser usado como os demais anfiteatros.




O aqueduto, que garantia um abundante suprimento de água, foi construído no período herodiano; foi posteriormente reparado e aumentado para conduzir um canal duplo, quando a cidade cresceu. O aqueduto superior tem início nas fontes localizadas a uns 9 km a nordeste de Cesaréia, no sopé do Monte Carmel. Ele foi construído com considerável conhecimento de engenharia, permitindo que a água corresse, pela ação da gravidade, das fontes até a cidade. Em alguns trechos, o aqueduto era sustentado por fileiras de arcos, e atravessava a cadeia de kurkar ao longo da costa passando por um túnel. Entrando na cidade pelo norte, a água corria por um sistema de tubulação até cisternas e fontes por toda a cidade. Várias inscrições no aqueduto testemunham que os responsáveis por sua manutenção eram a Segunda e a Décima Legiões.

Cesaréia Bizantina

Durante este período, Cesaréia tornou-se um importante centro cristão. Orígenes, padre da Igreja, fundou uma academia cristã na cidade, com uma biblioteca de 30.000 manuscritos. No começo do século IV, o teólogo Eusébio, que foi bispo de Cesaréia, aqui compôs sua monumental Historia Ecclesiastica dos primórdios do cristianismo e o Onomasticon, um amplo estudo geográfico-histórico da Terra Santa.

A Cesaréia bizantina era cercada por uma muralha de 2,5 km de comprimento, que protegia os bairros residenciais construídos fora da cidade romana. Em sua seção meridional havia um portão de 3 m de largura. Junto com a população cristã e suas numerosas igrejas, havia comunidades judaicas e samaritanas, que construíram belas sinagogas. Durante este período, o porto romano interno foi bloqueado e construíram-se edifícios no que havia se tornado terra firme. Uma linha de galerias com lojas foi construída contra a parede do pódio, diante do porto.

A igreja principal era a do Martírio do Sagrado Procópio, construída no século VI sobre os remanescentes do templo romano, sobre o pódio. Era uma igreja octogonal, de 39 m de largura, que se erguia dentro de um perímetro quadrado de 50 x 50 m, rodeada de salas ao longo das muralhas. O chão era lajeado com placas de mármore de formas variadas. Fora da linha de colunas do edifício, foram encontrados vários capitéis coríntios decorados com cruzes.

Um edifício grande e bem trabalhado, com numerosos pátios e salas espalhados por toda a área da insula (bloco de edifícios), cercado pelas ruas principais da cidade, foi alcunhado o edifício do governo. Sua entrada era pelo cardo (rua principal no sentido norte-sul), e seu lado ocidental era sustentado por uma fileira de galerias, que no passado haviam sido usadas como depósitos do porto. Uma dessas galerias, de frente para o decumanus (rua principal no sentido leste-oeste), era revestida de gesso e decorada com desenhos de parede em vermelho e preto, inclusive figuras de Jesus e dos doze apóstolos.

Um grande salão com uma abside, localizado no centro do edifício do governo, funcionava como tribunal. Fragmentos de uma inscrição em grego aqui encontrados referem-se a um decreto imperial que trata dos honorários que os funcionários do tribunal podiam cobrar pelos serviços prestados. Na parte nordeste do edifício havia um conjunto de salas com chão de mosaico; um deles com uma citação da Epístola de S. Paulo aos Romanos (13:3). Nichos retangulares nas paredes de uma sala comprida ao norte do tribunal indicam que provavelmente serviam como arquivo.

Os remanescentes de uma sinagoga do século V foram encontrados na praia, ao norte do porto. O edifício retangular está virado para o sul, na direção de Jerusalém. Entre os detalhes arquitetônicos encontrados em suas ruínas há capitéis com entalhes de menorot (candelabros), uma coluna com a inscrição Shalom e partes de uma inscrição em hebraico com a lista dos vinte e quatro sacerdotes do Templo de Jerusalém.

Foram expostos os remanescentes de vários outros grandes edifícios, dentre eles uma casa de banhos do século IV, reformada. Ela consistia de um conjunto de pátios e salas, muitos dos quais lajeados com mosaicos, com bancos ao longo das paredes, sendo que na área do caldarium (estufa) havia vários compartimentos dotados de sistema de aquecimento (hipocausto). Algumas salas particularmente elegantes eram lajeadas com mármore e continham decorações de mosaico nas paredes; numa delas há uma figura feminina, perto da qual as palavras "mulher bonita".

Dentro do anfiteatro, que já não estava mais em uso, foi construído um palácio de dois andares, ligados por uma escada. O pavimento superior incluía dois pátios e salas lajeadas com azulejos ou mosaicos coloridos, que serviam de residências. O andar inferior continha um pátio com uma abside num dos lados, lajeado com azulejos coloridos. Ao longo deste pátio erguiam-se duas fileiras de colunas com um santuário de mármore entre elas e na parede setentrional havia uma bica com um tanque retangular por baixo. Este andar inferior era um jardim aberto.

Cesaréia Árabe

Em 639, Cesaréia foi conquistada pelos árabes e sua importância e população declinaram. As áreas urbanas foram abandonadas e substituídas por terraços para agricultura. A cidade árabe estava cercada, no século X, por uma muralha de 3 m de espessura, cujos remanescentes foram encontrados durante as escavações.

Cesaréia dos Cruzados

Em 1101, o exército franco comandado pelo Rei Balduíno I conquistou Cesaréia. Esta se tornou a sede de um bispado e, além dos francos, nela se estabeleceram também cristãos orientais e muçulmanos. Os genoveses encontraram na cidade um vaso de vidro verde e declararam tratar-se do Santo Graal, o cálice usado por Jesus na Última Ceia. Ele foi levado a Gênova e colocado na Igreja de S. Lourenço.

Cesaréia foi capturada por Saladino em 1187, após um curto cerco. Foi reconquistada em 1191 por Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, que exilou os habitantes muçulmanos.

Frente à crescente ameaça muçulmana, Luís IX, Rei da França (que foi posteriormente canonizado), restaurou e fortificou Cesaréia em 1251-52. Uma majestosa muralha, de 4 m da espessura e cerca de 1,6 km de comprimento, cercava a cidade, que cobria uma área de mais de 16 hectares. A cidade era protegida ainda por um declive, por torres e um fosso de 10 m de profundidade e 15 m de largura.

O acesso à cidade era através de portões, sendo o principal localizado na muralha oriental. Para se chegar a essa porta principal, por acesso indireto, passava-se por uma ponte construída sobre arcos, sustentados por pilares no fundo do fosso. A sala do portão quadrada tinha um teto abobadado em forma de cruz, sustentado por consolos decorados com motivos florais. As portas eram fechadas por dentro com barras de madeira e protegidas externamente por uma grade de ferro, que era baixada através de uma fenda no teto. Estas impressionantes fortificações foram descritas detalhadamente pelos cronistas da época dos cruzados.

A catedral da cidade cruzada foi construída sobre o pódio erguido pelo Rei Herodes, a fim de servir de acrópole da cidade. A catedral do século XII, cuja parte oriental foi acrescentada nos meados do século XIII, era uma estrutura modesta medindo 55 x 22 m. O espaço interno se dividia numa nave central e duas laterais, que terminavam no leste em três absides; o chão era lajeado de mosaicos. A galeria abobadada era sustentada por pilares e pilastras retangulares.

A Cesaréia cruzada chegou ao fim em 1265, quando o sultão mameluco Baybars atacou a cidade. Depois de um curto cerco, os defensores cruzados perderam a esperança e evacuaram a cidade. Os conquistadores mamelucos, temendo um retorno dos cruzados, derrubaram completamente as fortificações da cidade.

Cesaréia é um majestoso sítio arqueológico, aberto ao público. Pode-se visitar o teatro do período romano, o palácio do Rei Herodes, o anfiteatro e muito mais. Pode-se também atravessar o fosso, entrar na cidade cruzada restaurada e contemplar o porto de cima do pódio.

As novas escavações na década de 90 foram realizadas por duas expedições: a da Autarquia de Antigüidades de Israel, dirigida por S. Porat; e a Expedição Conjunta de Cesaréia, do Centro de Estudos Marítimos da Universidade de Haifa, dirigida por A. Raban, da Universidade de Maryland, dirigida por K. Holum, e do Instituto de Arqueologia da Universidade de Haifa, dirigida por J. Patrich.

.:: Israel Ministry of Foreign Affairs

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