Após o fracasso da revolta contra Floro e da destruição do Templo, o governo romano tomou uma última medida para simbolizar o fim da nação judaica.
Existia uma contribuição anual que os judeus da Diáspora enviavam para a manutenção do Beit Hamikdash em Jerusalém. O que o governo de Roma fez foi transformar essa contribuição em um imposto destinado ao templo de Júpiter Capitolino, no Monte Capitolino, na capital do Império. Apesar de a contribuição ser insignificante, muitos judeus recusaram-se a pagar o Fiscus Judaicus. Outra conseqüência disto foi os judeus dispersos pelo mundo, que não haviam participado da revolta do ano 66, perceberam que não eram considerados distintos daqueles que habitavam a Palestina, sendo igualmente taxados.
Muitos perderam a fé no estudo e na religião como alternativas para manter o povo unido e vivo, a maioria achava que os judeus deveriam ou lutar por seu estado ou preparar-se para desaparecer.
Os judeus da Diáspora ficaram irritados com este imposto e com o destrato que os pagãos lhes impuseram após a destruição do Beit Hamikdash. Incitados pelas histórias de crueldade dos romanos e heroísmo dos judeus, eles esperavam a hora de, a seu modo de ver, dar o troco.
Uma tentativa de rebelião deu-se no Egito, um ano após o fracasso da revolta na Palestina, mas essa rebelião foi rapidamente sufocada e, como punição, o Templo de Onias, que funcionara na cidade de Heliontópolis, foi fechado.
Durante um tempo, a situação pouco mudou, os governos romanos tornaram-se um pouco mais amistoso, mas os pagãos, em contrapartida, continuavam irritando os judeus. Até que em 110 o Imperador Trajano começou a planejar mais uma campanha no Oriente. Querendo igualar-se a Alexandre Magno, Trajano lançou uma campanha de conquista dos territórios da Pérsia e da Índia. A Pártia estava enfraquecida nesta época, o que pode ter encorajado o imperador. Ele pensou que se queria ser vitorioso, deveria conquistar a simpatia dos judeus, visto que a Judéia era uma província de fronteira e que muitos judeus viviam na Pártia ocidental. Foi neste contexto que Trajano prometeu aos judeus que permitiria a reconstrução do Templo.
O imperador Trajano lançou sua campanha e rapidamente devastou a região ao lado do Eufrates, densamente povoada por judeus e conquistou o reino de Adiabene, situado no território que fora a Assíria, cuja família real se tornara judaica duas gerações antes. Continuou indo em direção ao Leste, mas teve que retroceder, pois nos territórios que acabara de conquistar, iniciaram-se rebeliões. Entre os que lutavam pela Pártia, estavam os judeus, que não se entusiasmaram com a idéia de ficar sob domínio romano. Trajano abandonou os planos de conquista e voltou sua atenção para estas rebeliões.
Exatamente nesta mesma época (115 E.C.), uma rebelião judaica iniciou-se no Mediterrâneo. Na África do Norte, em Cirenaica, freqüentemente havia distúrbios raciais e normalmente a população pagã podia contar com a ajuda dos soldados romanos para impedir que os judeus conseguissem se defender eficazmente. Desta vez, no entanto, a legião participava da campanha no Oriente. Os judeus, então conseguiram se defender e contra-atacar, levando a batalha para as habitações pagãs. Além disso, os judeus de Chipre e do Egito juntaram-se à luta.
A rebelião evolui para uma guerra. A população judaica dos três locais rebelados organizou exércitos regulares e vingaram-se cruelmente do que lhes tinha sido imposto anteriormente. Foi enviado o general Turbo para restabelecer a ordem. Os soldados de Turbo e a população pagã atacaram os judeus também cruelmente. Em Chipre, todos os judeus foram mortos e adotou-se uma lei, segundo a qual nenhum judeu poderia pisar na ilha, mesmo que naufragasse perto dela. No Egito e em Cirena a população foi tratada com ferocidade também. Com isso, a comunidade judaica de Alexandria entrou em decadência.
Entretanto, os judeus da Palestina não se revoltaram. Houve, sim, algumas lutas esporádicas, realizadas por judeus mais entusiastas. Estas lutas fizeram Trajano enviar um general cruel, Tineius Rufus, que contivera o levante dos judeus da Pártia, para governar a Judéia e ele extinguiu qualquer vestígio de rebeldia na Palestina.
O importante é que os judeus da Palestina, em sua maioria, não quiseram lutar desta vez. Isso se devia a duas coisas. A influência rabínica a favor da paz e a promessa de Trajano de reconstruir o Templo, na qual ainda se acreditava. Eles acreditavam, também, que a reconstrução do Beit HaMikdash teria como conseqüência restaurar Jerusalém.
O Templo, no entanto, não foi reconstruído. Protestos vieram dos samaritanos e dos pagãos da Palestina contra a restauração de Jerusalém e do Templo. A questão arrastou-se por vários anos, até que Trajano morreu e foi sucedido por Adriano, mais ligado à cultura pagã romana. Roma prometeu cumprir sua promessa quando o imperador pudesse visitar a Judéia. Em 130, Adriano foi à Palestina. Era um grande construtor, odiava ver ruínas. Ordenou, então, que Jerusalém fosse reconstruída, mas ela se chamaria Aelia Capitolina e teria um altar dedicado ao deus Júpiter, do qual Adriano era sumo sacerdote. Isto acabaria levando à Revolta de Bar Kochba.
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